sexta-feira, 18 de março de 2011

Crônica do dia: CRISE EXISTENCIAL

Imagem extraída de: olhares.com – ‘Janela indiscreta’ – Fangueiro – Paisagem urbana
A crise existencial havia se instalado em mim. Minhas noites eram intermináveis e insones. Meu mundo ruía em átimo de tempo. Não conseguia coordenar as idéias e, a cada instante, eu ficava mais vulnerável as emoções. Ao final da tarde, resolvi sair. Ver o por do Sol, escutar música, ver pessoas. Precisava urgentemente de emoções que pudessem me chacoalhar sub judice de meus questionamentos mais comuns. Na verdade, estava atônita com meu comportamento contraditório à pessoa amada; minha intolerância atingiu-a de forma tão arrogante e colérica que ao destilar veneno de “Inland Taipan”. Matei-me.
Ao final da tarde, encontrei-me com Lili, amiga de trabalho e psicoterapeuta ocasional. Fomos escutar Jazz, música erudita e tomar choppes em um bar charmoso da cidade. Eram quase 18h30, Belém parecia ferver a qualquer momento, a temperatura beirava aos 39º Gráus. Buscava o meu equilíbrio perdido entre palavras e confissões. Lá pelas tantas, após muitas lamúrias e querendo achar um culpado. Eis, que Lili, me apresenta (Roland Barthes). – Leia amiga, quem sabe, talvez encontre respostas para suas perguntas. Ao ler a “orelha do livro”, identifiquei-me: com uma frase perfeita. “O discurso amoroso é hoje de uma extrema solidão”. (fragmentos de um discurso amoroso). Esse livro é extraordinário porque ele discorre justamente sobre os fragmentos do amor, e, o objeto do desejo que é o “outro”. Se me proíbo ou não, isso pode ser mera coincidência.
A tarde fez- se noite. Eu continuava ali, às prosas com Lili. Já não estávamos tão sóbrias, entre goles e petiscos, as gargalhadas soavam como melodias diáfanas em sons presente entre conversas. Naquela tarde-noite, deixei de ser triste; para dar passagem a uma alegria efêmera, mas verdadeira, queria livrar-me do estigma degradante da grosseria desnecessária que maculou meu ser. Tarde da noite, nos despedimos, trocamos números de telefone, emails e a promessa de nos encontrarmos com mais freqüência.
Voltei pra casa. Comigo trazia Roland Barthes e uma infinidade de pensamentos. A contradição, a conduta o imperativo. Precisava urgentemente me esquivar do objeto de meu desejo, mas, meu desejo maior era encontrar- me, reencontrar, recortar um passado presente que me estrangulava e me absorvia. Era o fantasma do medo, da solidão encostada e incrustada em mim. Dormi, e quando acordei. Disse que não queria mais sofrer por você.
                                         Rosana Rodrigues
 

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