Imagem extraída de olhares.com – ‘Brilho de uma vida’ – Vitor Tripologos – Retratos
Hoje acordei com a sensação de que não dormia há dias. Olheiras, rugas, cansaço, lembranças dos desafetos. Minha aparência decrépita denunciava os anos e o fim.
Quando me olhei no espelho, não cri no que vi. Lá estava você reflexo de mim, contida em mim declarando amor escrito com baton. Minha cabeça girava como se eu estivesse embriagada, aliás, embriagada ainda estava, mas de amor. Talvez a ressaca moral que sentia naquele momento fosse maior que qualquer embriaguêz visivel e vexatória.
Havíamos selado o desejo de continuar a dois, sem a presença de tres ou mais. Não queria mais divisão, afinal, a relação de 12 anos andava frágil e estilhaçada. Saímos para jantar, tudo parecia calmo e transparente até a volta pra casa. Trocamos carícias, carinho e declarações de amor. Mas…, sem mais porquê, uma discussão fútil, inútil , sem fundamento. O embaraço conflitante daquela mixórdia, foi o suficiente para eu entender que o fim havia começado.
Pedi o divórcio não da relação, mas de mim. Fazemos escolhas e minhas escolhas começavam a emergir de uma estória que há muito havia morrido. As vezes insistimos em uma relação morta com o desejo ardente de ressuscitá-la e suscitar assim, o nosso desejo de permanência.
Começo agora a avaliar e reavaliar o preço da solidão acompanhada, essa causalidade que me dá um efeito negativo, até de mim.
Infelizmente, começo a ver as relações afetivas como meros negócios, criam-se sociedades essenciais à sua existência, tudo muito intrínseco e na maioria das vezes velados e dissimulados.
Quando ouço um discurso feminista, analiso bastante. São sempre belos discursos, frases feitas que discorrem sempre sobre o mesmo tema: A relação morta.
Sempre me pergunto: por anos de história, a mulher sempre foi um objeto feito para procriar, ser a esposa, a mulher do lar, dos filhos e do marido sempre infiel. Porquê isso é inerente do próprio “macho”. Com os tempos, fomos costruindo nossa própria história e ganhamdo espaço de igual pra igual. Hoje, estamos em todos os lugares, em todas as hierarquias. Entretanto, esquecemos que nossa força pode existir sem a banalização do sexo e sem perder a essência da feminilidade.
Trabalho. Logo sou dona do meu dinheiro, da minha liberdade e da minha verdade interior, não preciso sair na rua e gritar quem eu sou. Minha relação de12 anos, terminou, foi o fim do que há muito havia terminado. As brigas constantes, ciúmes sem motivos aparentes, cenas explícitas de vexames enfim…
Estou exausta, quero urgentemente voltar pra dentro de mim e resgatar a mulher incrível que sou.
Rosana Rodrigues
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