sexta-feira, 18 de março de 2011

Crônica do dia: O Texto

Ele era trilingüe, precisava ser poliglota para discernir o texto todo em hebráico. Após o disposório e os convidados já devidamente amesendados, o ameríndio meio andrógino foi convidado pelo pai da noiva a fazer o intróito do texto, com qual pretexto não se sabe. Entretanto o acabrunhado rapaz, assim o fez: senhoras e senhores boa tarde. Essa tertúlia plutocrata e eubiótica, cujo jurisconsulto Kleper Kepler, que nesse momento acaba de esposar a senhora Hanna Hammad Abul, faz-se representar através desse hebdomadário, para que a população de sua cidade, seja contemplada com suas benevolências – e que, a partir dessa data, 01 de janeiro de 1913 os súditos sejam senhores de suas propriedades, cujos bens serão apartados.
O rapaz já com apnéia e transpirando até pela última vértebra, cansado de usar sua lexicografia, entregou-se a um gole de licor de tangerina. De repente, lá pelas tantas, estava a criatura com a garrafa nas mãos. Tagarelou por meia hora um dialeto estranho e incompreensível – falava que precisava fazer um becape de sua memória, pois o chip de suas idéias estava desconectado do circuito integrado de seu ambiente de rede. Disse ainda, que precisava acessar um atalho urgentemente, de modo, que pudesse ir a um arquivo cuja caixa de entrada, precisava atualizar para baixar suas palavras, pois estas, estavam deletando e ele precisava zipar sua web.
O cara virara virtual, seu cérebro estava apresentando vírus. Um programa estranho havia se instalado em seu monitor e ele não conseguia lembrar de sua senha e assim reiniciar seu processador de memória. O servidor do rei havia pirateado, ou melhor, pirado com sua janela interativa. Seus movimentos falharam por falta de um nobreak cujo login não pôde ser linkado pelo delete do licor de tangerina. E, quando o cara apagou, lá se foram texto e memória maximizados. 
                                                                                      Rosana Rodrigues

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